domingo, 17 de outubro de 2010

MINHA APROVAÇÃO NA OAB - PARTE I

A vida é exatamente assim... Uma continuidade sem fim
de corpos bonitos, fortes, transparentes e organizados.
Quem não sabe lidar com alguns deles somos nós.
Por isso que crescemos e amadurecemos... Para conseguirmos...
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Eu quero poder dizer “Mãe, eu te amo!”. Eu quero poder escutar “Filha, eu te amo! Você é muito importante para mim!”. Mas eu também quero ganhar na Mega, me tornar uma escritora famosa, ficar magra como Gisele Bündchen, encontrar minha alma gêmea, me tornar uma advogada super respeitada e competente. O que isso quer dizer? Ah caros bedelheiros, o óbvio... Que nem sempre podemos ter tudo o que queremos. A vida é assim, feita de escolhas. Alguns desejos podem ser viáveis, como comer um misto quente no café-da-manhã, tentar ser um ser humano melhor e até mesmo passar na prova da OAB. Outros como ganhar na MEGA, me tornar uma escritora famosa e ser querida pela minha mãe já fogem do meu alcance.
Mas dói sabe? Dói saber que nosso relacionamento é péssimo, não tem mais jeito e que as lágrimas que me tomam nesse momento são de tristeza, frustração e medo pelo que me espera. Eu não quero ficar só! Por isso esses dias eu só pensava na primeira etapa da minha OAB. Porque achei que me focando de cada vez em uma etapa da minha vida eu superaria isso. Mas advinha? Quando chorei de alegria sentindo euforia, incredulidade e alívio, tudo o que queria era ter uma mãe para abraçar, mas o máximo que consegui foi ligar pro meu irmão para contar a novidade. Meu irmão ficou feliz por mim, me deu os parabéns, me agüentou na linha telefônica como uma dislexa, quando fiquei contando meu gabarito duas vezes e repetindo para ele como tinha descoberto que tinha passado. Mas... não foi a mesma coisa. Sabe pedi muito a Deus para passar! Muito porque a minha vida nesse momento depende desse exame, mas a falta de confiança da minha mãe em mim, assim como de apoio, me deixou vazia por dentro. Mesmo com os problemas de relacionamento, confiança e respeito eu costumava acreditar que a minha mãe era meu porto seguro, mas hoje de alguma maneira senti que comecei a caminhar só e isso está me deixando apavorada, desconcertada, embora saiba que já venho nesse rumo há muito tempo. Eu errei muito. Disse coisas que não devia. Tomei rumos equivocados. Mas não posso deixar de pensar que se ela estivesse lá comigo talvez as coisas houvessem sido diferentes.
Eu gosto de pensar que sei das coisas, que ajo com consciência, que tenho senso crítico, que sou um poço de filosofia ambulante. Um ser pensante, que observa o comportamento alheio, pondera o que é certo e o que é errado e toma atitudes satisfatórias e ajustadas. Eu gosto de pensar que não me importo com a opinião do outros e que sei o que estou fazendo. Mas na maioria das vezes, simplesmente não sei! Não é fácil sentir tanta carência dentro de si. Tanta necessidade de um abraço e de alguém que me diga o que devo fazer. Mas principalmente de alguém que me fizesse parar de sentir essas coisas. Tanto minha verdade quanto o que finjo. Sim eu sinto raiva dela. Sim eu me lembro de cada vez em que ela me xingou, ofendeu, disse que eu era a culpada de todos os seus problemas. Não esqueço de como ela disse que eu iria para o Inferno, como sou má e cruel. De como meu peso é vergonhoso para ela. De como ela me odeia. Lembro-me disso e de muito mais. Assim como o fato de que sou uma fracassada que “terminei meu curso nas coxas”, sem saber de nada. Mas mesmo assim eu sinto falta dela. Não posso dizer que amo minha mãe, por que isso seria uma inverdade. Mas não posso dizer que a odeio. Tenho raiva e tenho vontade de xingá-la e magoá-la, não posso negar. Mas ela é a minha mãe. Isso deve valer alguma coisa. Queria superar isso, ser criança novamente para achar que ela é o centro do meu universo mesmo que eu não seja mais o dela. Mas não dá. Sei que quase tudo o que ela me diz não é verdade. Ela apenas é uma pessoa frustrada que desconta toda a sua raiva nos filhos, e isso muitas vezes acaba direcionado para mim. Mas isso não apaga minha tristeza, raiva, impotência e frustração.
Hoje eu estava pensando em como não amo essa mulher. Não amo porque ela não é a minha mãe. A minha mãe era uma pessoa boa, gentil, prestativa, firme, autoritária e que defendia seus filhos e sua família por amor. Essa é mesquinha e covarde. Acha mais fácil culpar aos filhos e ao mundo por seus problemas, do que se erguer para solucionar o que der e enfrentar com dignidade o que precisar. É rabugenta e reclama de tudo aos berros e com ofensas o tempo todo. É possessiva e afastou a todos os filhos porque eles fugiram do modelo idealizado que ela construiu deles para si. Cria um ambiente ao seu redor de hostilidade, agressividade, desrespeito e tensão eterna. Sabe o que no fundo diferencia elas duas? A fé. Eu deixei de acreditar nela. De acreditar que valia a pena e de que era o certo. Pergunto-me se isso terminou de afundá-la. Se a culpa afinal é realmente minha. Eu queria consertar. Mas não vejo como. Como consertar o que você sente por alguém quando ela deliberadamente diz na sua cara que não se importa mais? Quando ela deliberadamente diz que te odeia? Quando ela não consegue enxergar que assim como você, ela também precisa mudar de comportamento e fazer concessões para que as coisas melhorem e que haja amor e harmonia novamente onde talvez nunca tenha havido. Quando ela não consegue enxergar que realmente vale a pena?
Hoje eu tive uma grande vitória! Eu passei na primeira etapa da prova da OAB! Isso foi um grande sinal de que realmente devo advogar e de que essa é a minha missão ou parte dela. O sinal de que as coisas vão mudar e de que devo estar preparada, começando, por exemplo, a estudar para a segunda etapa da prova. Mas também tive uma grande derrota: não tive a companhia e o apoio da minha mãe! Preciso vencer as etapas porque preciso sobreviver e fazer o que tiver de fazer. Mas a que preço se eu estarei só? O que vou fazer com tudo o que tem dentro do meu coração e da minha cabeça?
Uma etapa de cada vez. Eu sei! Mas e se me arrepender no futuro por ter deixado algo passar? Algo que não consigo enxergar. Já tentei conversar sobre isso... Mas quando proponho uma trégua e um comportamento mútuo melhor, só escuto em como “Sou Zé Promessinha, não mudo de comportamento e continuo a desrespeitando. Só escuto que estou acima do peso, sou uma fracassada, má, interesseira e egoísta”. Não ouço nada que se assemelhe a “Me desculpe. Eu também errei, afinal sou humana. Não quis dizer o que disse. É claro que não me arrependo de ter tido você. Não, você não é culpada por minhas doenças. Vou me esforçar para respeitá-la, porque afinal não é porque sou mãe sua e de seus irmãos que posso tudo, inclusive humilhá-los. Mas é claro que não odeio você ou seus irmãos! Todos erramos, mas podemos tentar superar isso! E não, não acho que você colocou seus irmãos (Um homem de 28 e uma menina de 20!) contra mim!”.
Como posso respeitar alguém que acha que pode humilhar aos filhos e ofendê-los apenas pelo fato de ser nossa mãe? Como posso respeitar alguém que fez questão de se intrigar de mim há quase quatro semanas depois de ter me mandado tomar naquele lugar que bem sabemos aonde é, em frente a um supermercado aos gritos, apenas porque estávamos tendo uma discussão? Como posso respeitar alguém que hoje me chamou de fracassada, disse que não sei peticionar, que não sei nem para onde vai Direito e não teve sequer a consideração de me dar os parabéns, mesmo quando tive a capacidade de agradecer a ela por em parte ter me ajudado a passar na prova já que foi ela que financiou meu curso? Deixar uma blusa de presente na minha cama não resolve problema nenhum. Muito menos comprando uma para minha irmã no mesmo dia. Pode ser infantil pensar que eu pelo menos hoje ganharia um presente que fosse só meu, que fosse uma recordação pelo meu exame. Mas o que eu queria mesmo era uma parabenização ou um pouco de lealdade. Apenas isso.
Mas como eu disse... Nem sempre podemos ter tudo o que queremos.
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Beijos e Sorrisos.
Senhorita T2.
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P.S.: Isso tudo se deu no dia 28 de setembro de 2010.

4 comentários:

  1. Sim, não podemos ter tudo o que queremos. Viver é aprender a conviver com as frustrações. Alcançando a maturidade. É doído ? Sim. É. Mas procuremos ver o lado bom das coisas. Sempre tem.
    Seu relacionamento com sua mãe lembra o relacionamento de uma amiga com a mãe dela. Parece que existe muita relação conflituosa entre mãe e filha.
    Mas agora quero apenas lhe dar PARABÉNS pelo sucesso alcançado. Pela sua aprovação. É o que importa no momento.
    O resto o tempo coloca no seu devido lugar.

    Grande beijo e sucesso !

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  2. Senhorita T2, adorei o seu blog. Muito fôfo. Gostei muito de sua visita ao meu Óbvio, nosso cantinho de encontros.
    Já nem vou seguir o seu blog. Vou perseguí-lo.
    Beijocas com carinho.
    Manoel.

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  3. Primeiramente meus parabéns pela sua aprovação. Nem tudo é como gostaríamos mas é bom que vc se sinta feliz e reconheça e comemore suas vitórias. Quanto ao relacionamento com sua mãe, entendo que seja complicado, também tenho problemas com a minha, mas se você não pode muda-la pode mudar seu comportamento ou atitudes perante ela. Não é fácil eu sei disso mas isso aos poucos vai mostrando a ela quem vc é e o quanto está lutando e batalhando pra ser diferente dela, ou pelo menos não reagir da mesma forma que ela age com você. Outra coisa importante é aprender a não depender da aprovação de ninguém. Lógico que é bom ter apoio e carinho mas quando não conseguem nos enxergar e apoiar é fundamental que possamos aprender a nos virar e diminuir essa dependência emocional de aprovação. Até porque nunca estaremos sempre agradando a todo mundo o tempo todo concorda? Então seja apenas você mesma e faça o melhor possível.

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  4. Parabéns pela sua vitória em relação à primeira fase do exame da OAB.
    Quanto ao relacionamento relatado, alguma mudança só terá alguma possibilidade de ocorrer quando você estiver totalmente independente, num espaço autônomo, sem uma influência direta. Seu texto deixa transparecer um relacionamento obsessivo e desequilibrado de ambos os lados da relação. A meu ver, só rompendo essa rotina doentia poderá gerar a possibilidade de construir um novo relacionamento mais saúdável!

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